Não me enganem que eu não gosto

Não entendo o ufanismo de corinthianos que estão se vangloriando de nossa atual liderança, resultante mais dos erros alheios do que dos nossos acertos. Se até jogadores do Corinthians declaram que “O Flamengo tem apresentado um futebol melhor que o nosso e (...) tem jogado mais,” que “(...) somos líderes por sorte, mas temos que ter competência.” (Júlio César), que “no 1º tempo tivemos movimentação, acertamos os passes, mas no 2º tempo isso caiu. Eles conseguiram jogar e a gente ficava sem a bola,” e que “para ser líder temos que fazer um pouco mais durante os 90 minutos e não jogar um tempo só” (Alex), fica evidente que essa liderança com o mesmo número de pontos do 2º colocado e com o Corinthians em queda livre, é muito mais motivo de preocupação que de comemoração. Diante desse quadro, só nos restou a pobreza de comemorar gols contra nossos adversários diretos, fato testemunhado pelas manifestações da torcida no Pacaembu, no twitter, em alguns blogs e por jogadores, como podemos constatar na declaração de Danilo, que diante do empate de domingo afirmou que “temos que comemorar o empate do Flamengo.”

Não tem cabimento tomar um sufoco de um time mediano diante de mais de 30 mil torcedores em pleno Pacaembu. Coerente com a bipolaridade corinthiana, presenciamos um bom 1º tempo, (apesar das perdas de gols e da lambança da defesa no 1º gol, onde um deixou pro outro, o outro deixou pro outro e ninguém foi na bola) e uma etapa final medíocre. Podemos mesmo dizer que em um só jogo, tivemos dois Corinthians em campo.

No 2º tempo o jogo inverteu totalmente, com o Ceará atacando e o Corinthians se defendendo e a espera de um contra ataque, como se fosse possível que o Danilo, um meia lento e que cadencia o jogo, conseguisse atuar como ponta. Pelas suas características, falta-lhe habilidade e velocidade para a função que lhe foi atribuída. Por sua vez, Jorge Henrique mais marcava que atacava. Para não variar, Tite substituiu mal. O prazo de validade do Danilo já havia vencido e ele se arrastava em campo. Mas, ao invés de substituí-lo e deslocar o William para a ponta para a entrada de Liedson, ele tira William, matando de vez a possibilidade das jogadas pelos lados e de velocidade nos contra ataques. Vencendo por 2 a 1, portanto, na margem de risco de levar um empate, o Corinthians mal via a bola e só se defendia. 

E, como quem não faz, toma, em uma nova lambança da defesa, que falhou na marcação de uma jogada de bola parada, aos 39 minutos da etapa final, tomamos o 2º gol. Aí, todo mundo acordou. Tite substituiu o Danilo pelo Émerson e o time começou a atacar. Mas, a vaca já tinha ido para o brejo e não havia mais tempo para desatolar. E, junto com ela, o time entalou na areia movediça.

Não estou lamentando só mais um resultado adverso. Estou lamentando a queda de rendimento e a perda da pegada. Conquistamos apenas um terço (6) dos últimos 18 pontos disputados (uma vitória, três empates e duas derrotas). Nossa única vitória foi muito sofrida, apesar do jogo ter sido com o lanterna do Campeonato e no Pacaembu. Nossos três empates foram com times que ocupam posições inferiores da tabela (Ceará, Santos e Atlético Paranaense) e perdemos do Cruzeiro em nossa casa e do Avaí). Não podemos culpar o azar nem a zica, pois isto não existe. Estamos em queda livre por incompetência, por erros de estratégias, por má postura e por atitudes equivocadas. Tornamo-nos um time previsível, que para ser anulado e tomar sufoco, não precisa ter nenhum Guardiola nem Mourinho no banco adversário. 

Como bem analisou o Silvinho, é só seguir o script: “enquanto não sofrer um gol, basta marcar bem os meias, colar nos atacantes e congestionar o meio campo (...) e quando sofrer (...)  gol, já se sabe que o Corinthians recuará, passando a jogar com os 10 atrás da linha da bola. Aí, basta administrar o jogo, tocar a bola e esperar a melhor oportunidade. O gol sairá em questão de tempo.”

Se cada jogo do Corinthians fosse um concerto musical poderíamos dizer que estamos diante de uma orquestra com desempenho irregular que, ás vezes, executa uma bela peça musical, mais pelo talento de alguns músicos do que por uma boa partitura, mas que carece de um bom repertório e um maestro competente. Tite está muito longe de ser um André Rieu.

Se fosse uma Escola de Samba poderíamos dizer que apesar de alguns bons percussionistas, de bons passistas e belas cabrochas, de bonitas fantasias e adereços, a Escola vem atravessando o samba na Avenida. Falta-lhe um bom enredo, um bom Mestre de Bateria e um Diretor de Harmonia.

Se fosse um cinema, poderíamos afirmar que, apesar de passar alguns filmes razoáveis, poucos muito bons e algumas comédias, a programação prioriza dramas e tragédias, mas, ultimamente, só passa filme de terror.

Deixando as comparações de lado, percebemos que o que falta no Corinthians é uma atitude mais responsável, comprometimento e um bom futebol. E um técnico competente que seja um bom estrategista e tenha postura de vencedor.

Parece que os profissionais do futebol do Corinthians estão se esquecendo do fundamental. Estão se esquecendo de que

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